O futuro da democracia (1984) parte de uma definição mínima dessa forma de governo. Sua análise adota a perspectiva do contraste entre os ideais de ontem (teorias como as de Rousseau, Locke, e Stuart Mill) e a matéria bruta de hoje (a atual conjuntura das democracias representativas). Isso se traduz em promessas não-cumpridas, como por exemplo a que diz respeito à representação: o ideal era o da representação política (o representante representando apenas a nação), mas na prática deu-se o inverso: o representante invariavelmente representa interesses particulares; a que tem que ver com o poder oligárquico: o projeto democrático preconizava a eliminação da distinção entre governantes e governados ? como resultado, contudo, temos que a própria forma da democracia representativa já é a negação daquele projeto e que não somente as oligarquias não foram suprimidas, como hoje também temos a presença de toda uma gama de elites; e a que trata do ?poder invisível?: o ideal primeiro da democracia era o da transparência ? todas as ações do governo deveriam ser públicas e nenhum outro tipo de poder secreto seria legítimo ? mas hoje temos, de uma parte, alguns poderes sociais anômalos e encobertos, e de outra, a tendência do governo de passar do seu papel de observado-controlado ao de observador-controlador.
Tais promessas não se realizaram devido a certos obstáculos imprevistos relacionados ao grau de complexidade das sociedades contemporâneas. Não obstante, a conclusão do autor é positiva e moderadamente otimista: os direitos com base na liberdade individual, o pluralismo partidário, o sufrágio universal, entre outras instâncias fundamentais do Estado democrático, têm permanecido atuantes e, apesar de algumas democracias estarem mais ou menos distantes do paradigma ideal e original de regime democrático, nenhuma delas se assemelha, constitutivamente, a um Estado de tipo autocrático.