Socialismo Eike Batista

Publicado em 28 de janeiro de 2015 | por F. L. Maus

A maldição de ter algo em troca de nada

N. do revisor: Este artigo foi escrito e publicado nos EUA durante a década de 1950.

O presidente do banco tem uma fé implícita na integridade do seu caixa. O caixa repentinamente desaparece com 50 mil dólares.

Um homem caminha apressadamente em meio à multidão da Times Square na virada do Ano Novo. Ele busca sua carteira. Ela se foi; roubada por alguém.

Uma família volta de férias. Sua casa foi saqueada. Objetos de valor foram levados.

Dois seguranças de um carro forte são mortos na entrada de um banco. Dois meliantes armados pegam os malotes de dinheiro e desaparecem.

Se você é um leitor regular de jornais, os eventos brevemente descritos acima deveriam soar familiares. Talvez, em algum momento, você pode ter pensado sobre como um adulto forte e saudável chega ao ponto de cometer tais crimes. Existem, pelo menos, duas verdades sobre tais ações que são óbvias, embora sejam frequentemente negligenciadas. A primeira delas é o simples fato de que uma pessoa que comete um crime similar aos supracitados deve planejá-lo.

Pergunta-se, então, “Como o pensamento de tais pessoas fica tão obscurecido ao ponto de leva-las, em ultima instância, ao caminho do crime?

A resposta a essa pergunta trata da segunda verdade óbvia sobre o comportamento criminoso anteriormente descrito. É essa: em cada um dos 4 casos mencionados, o vilão da ação tomou algo que não era seu; algo que não tinha obtido por seu trabalho; algo pelo que ele não estava oferecendo nada em troca; algo por nada.

Existe em quase todos nós, aquele velho sentimento, para não dizer sonho, de adquirir algo por nada; em pequenas ou grandes quantidades. Alguns de nós compram bilhetes de loteria em quase todas as oportunidades. Alguns de nós jogam o jogo do bicho. Alguns de nós secretamente esperam a morte de um parente rico, na expectativa de sejamos lembrados generosamente no seu testamento. Alguns de nós processam outros em busca de indenizações substanciais quando, na verdade, pouco ou nenhum dano foi causado. Alguns de nós ansiosamente buscam dicas sobre a bolsa de valores ou corridas de cavalos. Alguns de nós sucumbem à fascinação da máquina de caça-níqueis ou da roleta. E muitos de nós se recordam, com sentimentos nostálgicos, do encanto de nossa infância na crença do pote de ouro ao final do arco-íris. E assim continua, num refrão interminável: Something for nothing, Something for nothing, Something for nothing (N. do Revisor: Something for nothing, em tradução livre, é algo como “Algo por/em troca de nada.” Os dois termos são utilizados no texto.)

Pensar constantemente sobre “algo por nada” pode levar a maquinações constantes sobre como conseguir “algo por nada”. Como resultado, todos os desejos de ganhar a vida através do seu trabalho desaparecem. E, se isso ocorrer, receber sem dar torna-se o método aceito de sobrevivência. Aqui está a resposta à questão de como o pensamento de algumas pessoas pode tornar-se tão obscurecido ao ponto de leva-las ao crime.

No entanto, somente um número relativamente pequeno de pessoas permite que o apelo de algo por nada as seduza a cometer atos criminosos. Outros, quase cometem crimes, permitindo seduzir-se pela vida de mendicância. Outros ainda desenvolvem uma facilidade de trapacear dentro da lei. E outros sucumbem somente à disposição de ser irresponsáveis ou preguiçosos, nunca entendendo realmente a razão de seu comportamento. Eles sabem unicamente que estão constantemente esperando que, de alguma forma, em algum lugar, a providência divina lhes dê o sustento, sem muito esforço.

A grande maioria das pessoas, todavia, parece sofrer pouco ou nenhum dano pessoal por praticar esse passatempo de esperar obter algo em troca de nada. Contudo, existe outro aspecto desse comportamento “algo por nada” que é muito mais sério do que um simples caso de roubo à mão armada.

A história está repleta dos destroços de homens e de nações que foram seduzidas à destruição pela tentação de algo por nada – seduzidas por apelos cuidadosamente focados nas tendências criminais que estão adormecidas e ignoradas em quase todas as pessoas. E a tentação teve sucesso somente porque sua verdadeira natureza estava inevitavelmente escondida sob o disfarce de uma propaganda moralista.

Pode ser verdade que a história esteja sendo sutilmente compelida a se repetir; talvez em uma escala maior e mais terrível do que antes. É provável que muitas pessoas já tenham sido iludidas para justificar que um historiador imparcial no futuro distante escreva um livro intitulado: “O Colapso da Civilização do Século XX – Uma Era de Algo por Nada.” Ele pode descrever com detalhes a maneira pela qual líderes públicos inescrupulosos e talentosos enganaram e forçaram inúmeros indivíduos justos de volta à miséria e escravidão com aquela velha história sobre o pote de ouro ao final do arco-íris – o arco-íris de César.

Talvez os historiadores do futuro dirão algo como:

Mesmo nos Estados Unidos, o qual era a última esperança do mundo em 1960, esquemas de assistencialismo colossais, cuidadosamente disfarçados por ambiguidades de nível acadêmico, já tinham corrompidos milhões de adultos maduras e capazes na crença de que seu bem estar pessoal era a responsabilidade do outro – que deveriam ser devidamente sustentados pelo produto dos esforços de outras pessoas, não dos seus!

Aqueles líderes liberais que tentaram revelar o grande embuste foram insultados e ridicularizados. Era tarde demais. Os inescrupulosos e talentosos já tinham obtido o manto da justiça para pregar seu evangelho profano de algo em troca de nada. E seu sucesso foi, em grande parte, instigado por intelectuais populares e levianos que asseguraram a quem quisesse ouvir que as pessoas, simplesmente por terem acesso às urnas, eram justamente merecedores de qualquer coisa que quisessem votar para si.

E assim, confundido pelas meias-verdades e pelas sutis, porém firmes mentiras, as pessoas foram persuadidas a esquecer que a utilidade pessoal é o único caminho que os homens podem tomar na busca da liberdade e da felicidade. Em substituição à verdade que foram enganados a esquecer, as pessoas foram sistematicamente persuadidas a acreditar que, se prestassem adoração no altar do onisciente governo, uma torrente constante de coisas por nada traria uma colheita de “segurança” para todos. De todos os crimes cometidos naquela imprudente e insensata era, esse foi o maior.

// Traduzido por Matheus Pacini. Revisado por Russ da Silva | Artigo original.


Sobre o autor

F. L. Maus

F. L. Maus foi diretor de treinamento industrial na década de 1950.



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