A ética objetivista
Já que irei falar sobre a Ética Objetivista, devo começar citando seu melhor representante – John Galt, em A Revolta de Atlas:
Durante séculos de calamidades e desastres, causados pelo seu código de moralidade, vocês têm clamado que seu código tem sido quebrado, que as calamidades são punições por terem o quebrado, que os homens são muito fracos e muito egoístas para derramar todo o sangue que era necessário. Vocês condenaram o homem, vocês condenaram a existência, vocês condenaram essa terra, mas nunca ousaram questionar seu código. . . . Vocês continuaram clamando que seu código era nobre, mas a natureza humana não era boa o suficiente para praticá-lo. E ninguém ergueu-se para fazer a pergunta: Bom, por que padrão?
Vocês queriam saber a identidade de John Galt. Eu sou o homem que fez essa pergunta.
Sim, essa é uma era de crise moral. Seu código moral alcançou o seu clímax, o beco sem saída no fim de seu curso. E se vocês desejam continuar vivendo, o que vocês precisam agora não é retornar à moralidade, mas descobri-la.
O que é moralidade, ou ética? É um código de valores para guiar as escolhas e ações humanas – as escolhas e ações que determinam o propósito e o curso de sua vida. Ética, como uma ciência, trata em descobrir e em definir tal código.
A primeira pergunta que deve ser respondida, como uma precondição a qualquer tentativa de definir, julgar ou aceitar qualquer sistema específico de ética, é:Por que o homem precisa de um código de valores?
Deixe-me enfatizar isso. A primeira pergunta não é: Que código de valores particular o homem deve aceitar? A primeira pergunta é: O homem realmente precisa de um código de valores? e por quê?
O conceito de valor, de “bem ou mal”, é uma invenção humana arbitrária, desvinculada, não derivada e não sustentada por qualquer fato da realidade – ou é baseado num fato metafísico, numa condição inalterável da existência humana? (Eu uso a palavra “metafísica” para dizer: aquilo que pertence à realidade, à natureza das coisas, à existência). Uma convenção humana arbitrária, um mero costume, decreta que o homem deve guiar suas ações por uma série de princípios – ou há um fato da realidade que o exige? A ética é uma atribuição das venetas [1]: de emoções pessoais, de decretos sociais e revelações místicas – ou é uma atribuição da razão? A ética é um deleite subjetivo – ou uma necessidade objetiva?
No triste registro da história da ética da humanidade, – com algumas raras e malsucedidas exceções – moralistas têm encarado a ética como a atribuição de venetas, isso é: do irracional. Alguns deles o fizeram explicitamente, por intenção – outros implicitamente, por ausência. Uma veneta é um desejo experimentado por uma pessoa que não sabe e não se importa em descobrir a sua causa.
Nenhum filósofo deu uma resposta racional, objetivamente demonstrável, científica, à pergunta de por que o homem precisa de um código de valores. Enquanto essa pergunta permaneceu não respondida, nenhum código de ética racional, científico, objetivo, pôde ser descoberto ou definido. O maior de todos os filósofos, Aristóteles, não considerou a ética como uma ciência exata; ele baseou o seu sistema ético em observações do que os homens nobres e sábios de seu tempo escolhiam fazer, deixando não respondida a pergunta de: por que eles escolhiam fazer isso e por que ele os considerava nobres e sábios.
A maioria dos filósofos admitiu a existência da ética como certa, como dada, como um fato histórico, e não estavam preocupados em descobrir sua causa metafísica ou validade objetiva. Muitos deles tentaram quebrar o monopólio tradicional do misticismo no campo da ética e, alegadamente, definir uma moralidade racional, científica, não religiosa. Mas suas tentativas consistiram em tentar justificá-la em fundamentos sociais, meramente substituindosociedade por Deus.
Os declarados místicos possuíam a arbitrária, inexplicável, “vontade de Deus” como o padrão do bem e como a validação de sua ética. Os novos místicos a substituíram pela “vontade da sociedade”, assim entrando em colapso na circularidade de uma definição como a de que “o padrão do bom é aquilo que é bom para a sociedade”. Isso significou, em lógica – e, hoje, em prática mundial – que a “sociedade” está acima de qualquer princípio ético, já que ela é a fonte, padrão e critério de ética, já que “o bom” é tudo o que ela desejar, tudo o que ela decidir declarar ser o seu próprio bem-estar e satisfação. Isso significou que a “sociedade” pode fazer qualquer coisa que desejar porque ela a escolheu. E – desde que não existe uma entidade como “sociedade”, já que sociedade é somente um número de pessoas individuais – isso significou que alguns homens (a maioria ou qualquer gangue que afirma ser sua porta-voz) estão eticamente designados a perseguir quaisquer venetas (ou qualquer atrocidade) que eles desejarem perseguir, enquanto outros homens são eticamente obrigados a pôr suas vidas a serviço dos desejos dessa gangue.
Isso dificilmente poderia ser chamado de racional, embora a maioria dos filósofos decidiu declarar agora que a razão fracassou, que a ética está fora do poder da razão, que uma ética racional nunca poderá ser definida, e que no campo da ética – na escolha de seus valores, de suas ações, de suas buscas, de seus objetivos de vida – o homem deve ser guiado por algo além da razão. Pelo o quê? Fé, instinto, intuição, revelação, sentimento, gosto, desejo, vontade,veneta. Hoje, como no passado, a maioria dos filósofos concorda que o padrão supremo da ética é a veneta (eles a chamam de “postulado arbitrário”, ou “escolha subjetiva”, ou “comprometimento emocional”) – e a luta é somente sobre a questão da veneta de quem: sua própria, ou da sociedade, ou do ditador, ou de Deus. Em quaisquer outras coisas eles podem discordar, mas os moralistas de hoje concordam que a ética é uma questão subjetiva e que as três coisas barradas de seu campo são: razão, mente e realidade.
Se você deseja saber por que o mundo está desmoronando a um nível cada vez mais baixo do inferno, essa é a razão.
Se você quer salvar a civilização, é essa premissa da ética moderna – e de toda histórica ética – que você deve desafiar.
Para desafiar a premissa básica de qualquer disciplina, deve-se começar pelo começo. Na ética, deve-se começar perguntando: O que são valores? Por que o homem precisa deles?
“Valor” é aquilo pelo qual se age para alcançar e/ou manter. O conceito de – valor – não é uma primária; ele pressupõe uma resposta à pergunta: de valor paraquem e para quê? Ele pressupõe uma entidade capaz de agir para alcançar um objetivo perante uma alternativa. Onde não existem alternativas, não são possíveis objetivos e valores.
Eu cito o discurso de Galt:
Só há uma alternativa fundamental no universo: existência ou não-existência -? e isso se relaciona a uma única classe de entidades: aos organismos vivos. A existência de matéria inanimada é incondicional, a existência da vida não é: ela depende de um curso específico de ação. Matéria é indestrutível, ela muda sua forma, mas ela não pode deixar de existir. É somente o organismo vivo que enfrenta uma alternativa constante: a questão de vida ou morte. A vida é um processo de ação auto-sustentada e auto-gerada. Se um organismo falha nessa ação, ele morre; seus elementos químicos permanecem, mas sua vida deixa de existir. É somente o conceito de “Vida” que torna o conceito de “Valor” possível. É somente para uma entidade viva que coisas podem ser boas ou más.
Para deixar esse ponto completamente claro, tente imaginar um robô imortal, indestrutível, uma entidade que se move e age, mas que não pode ser afetada por nada, que não pode ser mudada de forma alguma, que não pode ser danificada, ferida ou destruída. Tal entidade não seria capaz de ter valor algum; ela não teria nada a ganhar ou a perder; ela não poderia considerar algo como a favor ou contra si, como servindo ou ameaçando seu bem-estar, como satisfazendo ou frustrando seus interesses. Ela não poderia ter interesses ou objetivos.
Só uma entidade viva pode ter objetivos ou pode originá-los. E é somente um organismo vivo que tem a capacidade de ação auto-gerada, dotada de objetivo. No nível físico, as funções de todos os organismos vivos, do mais simples ao mais complexo, – da função nutritiva na única célula de uma ameba à circulação sanguínea no corpo de um homem – são ações geradas pelo próprio organismo e direcionadas a um simples objetivo: a manutenção da vida do organismo.*
A vida de um organismo depende de dois fatores: do material ou combustível que ele precisa do exterior, de seu ambiente físico, e das ações de seu próprio corpo, a ação de usar esse combustível propriamente. Que padrão determina o que é próprio nesse contexto? O padrão é a vida do organismo, ou: aquilo que é necessário para a sobrevivência do organismo.
Nenhuma escolha é aberta a um organismo nessa questão: aquilo que é necessário para a sua sobrevivência é determinado pela sua natureza, pelo tipo de entidade que ele é. Muitas variações, muitas formas de adaptação ao seu ambiente são possíveis a um organismo, incluindo a possibilidade de existir por um tempo em uma condição avariada, deficiente ou doente, mas a alternativa fundamental de sua existência continua a mesma: se um organismo falha nas suas funções básicas exigidas por sua natureza – se o protoplasma de uma ameba para de assimilar comida, ou se o coração de um homem para de bater – o organismo morre. Em um sentido fundamental, imobilidade é a antítese de vida. A vida pode ser mantida em existência somente por um processo constante de ação auto-sustentada. O objetivo dessa ação, o valor supremo que, para ser mantido, deve ser conquistado durante todo momento, é a vida do organismo.
Um valor supremo é aquele objetivo final ou fim, o qual todos os objetivos inferiores são os meios – e ele determina o padrão pelo qual todos os objetivos inferiores são avaliados. A vida de um organismo é o seu padrão de valor: aquilo que promove sua vida é o bom, aquilo que a ameaça é o mau.
Sem um objetivo supremo ou fim, não pode haver objetivos inferiores ou meios: uma série de meios em uma progressão infinita em direção a um fim inexistente é uma impossibilidade metafísica e epistemológica. É somente um objetivo supremo, um fim em si mesmo, que torna a existência de valores possíveis. Metafisicamente, vida é o único fenômeno que é um fim em si mesmo: um valor conquistado e mantido por um processo constante de ação. Epistemologicamente, o conceito de “valor” é geneticamente dependente e derivado do conceito antecedente de “vida”. Falar em “valor” como aparte de “vida” é pior do que uma contradição em termos. É somente o conceito de “Vida” que torna o conceito de “Valor” possível?.
Em resposta àqueles filósofos que afirmam que nenhuma relação pode ser estabelecida entre fins supremos ou valores e os fatos da realidade, deixe-me enfatizar que o fato de que entidades vivas existirem e agirem necessita a existência de valores e de um valor supremo que, para cada entidade viva, é a sua própria vida. Assim, a validação dos julgamentos de valor deve ser obtida com referência aos fatos da realidade. O fato de que uma entidade viva é, determina o que ela deve fazer. Isso é o suficiente para a questão da relação entre “ser” e “dever”.
Agora, de que maneira o ser humano descobre o conceito de “valor”? Por que meios ele primeiramente se torna ciente da questão do “bem e mal” na sua forma mais simples? Por meio das sensações físicas de prazer ou dor. Assim como as sensações são o primeiro passo para o desenvolvimento de uma consciência humana no âmbito da cognição, também eles são o primeiro passo no âmbito da avaliação.
A capacidade de experienciar prazer ou dor é inata no corpo humano; é parte de sua natureza, parte do tipo de entidade que ele é. Ele não tem escolha sobre isso, e ele não tem escolha sobre o padrão que determina o que vai fazê-lo experienciar a sensação física do prazer ou da dor. O que é esse padrão? Sua vida.
O mecanismo prazer-dor no corpo de um homem – e nos corpos de todos os organismos vivos que possuem a faculdade da consciência – serve como um guardião automático da vida do organismo. A sensação física do prazer é um sinal indicando que o organismo está seguindo o curso de ação correto. A sensação física de dor é um sinal de advertência de perigo, indicando que o organismo está seguindo o curso de ação incorreto, que algo está prejudicando a função apropriada de seu corpo, que necessita de ação para corrigi-lo. A melhor ilustração disso pode ser vista no caso raro, estranho, de crianças que nascem sem a capacidade de experienciar dor física; essas crianças não sobrevivem por muito tempo; elas não têm meios de descobrir o que pode machucá-las, não têm sinais de advertência, e assim um pequeno corte pode se desenvolver em uma infecção mortal, ou uma importante doença pode permanecer despercebida até que seja muito tarde para lutar contra ela.
Consciência – para aqueles organismos vivos que a possuem – é o meio básico de sobrevivência.
Os organismos mais simples, como as plantas, podem sobreviver por meio de funções físicas automáticas. Os organismos mais avançados, como os animais e o homem, não podem: suas necessidades são mais complexas e o alcance de suas ações é mais amplo. As funções físicas de seus corpos podem executar automaticamente a tarefa de usar combustível, mas não pode obter esse combustível. Para obtê-lo, os organismos mais avançados precisam da faculdade da consciência. A planta pode obter comida do solo no qual ela cresce. Um animal deve caçar para isso. O homem deve produzi-la.
Uma planta não tem escolha de ação; os objetivos que ela busca são automáticos e inatos, determinado pela sua natureza. Nutrição, água, luz do sol são valores que sua natureza determinou para que ela buscasse. Sua vida é o padrão de valor direcionando suas ações. Existem alternativas para as condições que ela encontra no seu ambiente físico – como calor ou frio, aridez ou umidade – e há certas ações que ela é capaz de executar para combater condições adversas, como a habilidade de algumas plantas de rastejar por debaixo de uma pedra para alcançar a luz do sol. Mas sejam quais forem as condições, não há alternativa à função de uma planta: ela age automaticamente para promover sua vida, ela não pode agir para sua própria destruição.
A variedade de ações necessária para a sobrevivência de organismos mais avançados é maior: é proporcional à extensão de sua consciência. A mais inferior das espécies conscientes possuem somente a faculdade da sensação, que é suficiente para dirigir suas ações e abastecer suas necessidades. Uma sensação é produzida pela reação automática de um órgão a um estímulo do mundo exterior; elas duram pelo momento imediato, enquanto que o estímulo durar e não mais que isso. Sensações são uma resposta automática, uma forma automática de conhecimento, que uma consciência não pode nem buscar nem dela escapar. Um organismo que possui somente a faculdade da sensação é guiado pelo mecanismo prazer-dor de seu corpo, isso é: por um conhecimento automático e um código de valores automático. Sua vida é o padrão de valor dirigindo suas ações. Dentro da extensão de ações possíveis, ele age automaticamente para promover sua vida e não pode agir para sua própria destruição.
Os organismos mais avançados possuem uma forma de consciência muito mais potente: eles possuam a faculdade de reter sensações, que é a faculdade dapercepção. Uma “percepção” é um grupo de sensações automaticamente retidas e integradas pelo cérebro de um organismo vivo, o que dá a ele a habilidade de estar prevenido, não de estímulos individuais, mas de entidades, de coisas. Um animal é guiado, não meramente por sensações imediatas, mas porpercepção. Suas ações não são respostas isoladas, distintas, a um estímulo individual, distinto, mas são direcionadas por uma percepção integrada da realidade perceptiva que ele defronta. Ele é capaz de entender os concretos perceptivos presentes no momento, e ele é capaz de formar associações perceptivas automáticas, mas não pode ir além. Ele é capaz de aprender certas habilidades para lidar com situações específicas, como caçar ou esconder-se, o que os pais dos animais mais avençados ensinam a seus filhotes. Mas o animal não tem escolha no conhecimento e nas habilidades que ele adquire; ele só pode repeti-los geração após geração. E um animal não tem escolha em relação ao padrão de valor direcionando suas ações: seus sentidos o abastece com um código de valores automático, um conhecimento automático do que é bom ou mau para si, o que favorece ou arrisca sua vida. Um animal não tem poder de estender seu conhecimento ou dele escapar. Em situações na qual seu conhecimento é inadequado, ele perece – como, por exemplo, um animal que fica paralisado nos trilhos de uma estrada de ferro no caminho de um trem veloz. Mas enquanto ele viver, um animal age segundo seu conhecimento, com segurança automática e sem poder de escolha: ele não pode suspender sua própria consciência; ele não pode escolher não considerá-la; ele não pode escapar de suas próprias percepções; ele não pode ignorar o seu próprio bem, ele não pode decidir escolher o mau e agir como seu próprio destruidor.
O homem não tem código automático de sobrevivência. Ele não tem curso de ação automático, não tem um conjunto de valores automático. Seus sentidos não dizem a ele automaticamente o que é bom ou mau para ele, o que irá favorecer sua vida ou arriscá-la, que objetivos ele deve buscar e quais meios para alcançá-los, de quais valores sua vida depende, qual curso de ações ela exige. Sua própria consciência deve descobrir as respostas para todas essas perguntas – mas sua consciência não vai funcionar automaticamente. O homem, a espécie viva mais avançada nessa terra – o ser cuja consciência tem capacidade ilimitada para adquirir conhecimento – é a única entidade viva nascida sem garantia alguma de permanecer consciente. A distinção particular do homem para todas as outras espécies vivas é o fato de que sua consciência é volitiva.
Assim como os valores automáticos direcionando as funções do corpo de uma planta são suficientes para sua sobrevivência, mas não são suficientes para um animal – também os valores automáticos fornecidos pelo mecanismo sensitivo-perceptivo de sua consciência são suficientes para guiar um animal, mas não são suficientes para o homem. As ações e sobrevivência humana requerem a orientação de valores conceituais derivados do conhecimento conceitual. Mas conhecimento conceitual não pode ser adquirido automaticamente.
Um “conceito” é uma combinação mental de dois ou mais concretos perceptuais, que são isolados por um processo de abstração e unidos por meio de uma definição específica. Toda palavra na linguagem humana, com a exceção de nomes próprios, denotam um conceito, uma abstração corresponde a um número ilimitado de concretos de um tipo específico. É organizando seu material perceptivo em conceitos, e seus conceitos em conceitos mais amplos que o homem é capaz de entender e reter, a identificar e integrar uma quantidade ilimitada de conhecimento, um conhecimento estendido além das percepções imediatas de qualquer determinado momento imediato. Os órgãos sensitivos humanos funcionam automaticamente; o cérebro humano integra seus dados dos sentidos [2]em sentidos automaticamente; mas o processo de integrar sentidos em conceitos – o processo de abstração e da formação de conceito – não é automático.
O processo da formação de conceito não consiste meramente em compreender algumas abstrações simples, como “cadeira”, “mesa”, “quente”, “frio”, e em aprender a falar. Ele consiste em um método de se usar a consciência, melhor designado pelo termo “conceituar”. Ele não é um estado passivo de registrar impressões aleatórias. É um processo ativamente sustentado de identificar as impressões em termos conceituais, de integrar todo evento e toda observação em um contexto conceitual, de entender relações, diferenças, semelhanças em um material perceptivo e em abstraí-los em novos conceitos, em formular inferências, em fazer deduções, em chegar a conclusões, em fazer novas perguntas e descobrir novas respostas e expandir o conhecimento em um montante sempre crescente. A faculdade que direciona esse processo, a faculdade que trabalha por meio de conceitos, é: razão. O processo é o raciocínio.
Razão é a faculdade que identifica e integra o material fornecido pelos sentidos humanos. É uma faculdade que o homem deve exercer por escolha. O raciocínio não é uma função automática. Em qualquer hora ou situação de sua vida, o homem é livre para raciocinar ou escapar dessa atividade. O raciocínio requere um estado de consciência total, focalizada. O ato de focalizar sua consciência é volitivo. O homem pode focalizar sua mente em uma percepção completa, ativa, intencionalmente direcionada, da realidade – ou ele pode desfocalizá-la e deixar-se ser levado a um estado semiconsciente, meramente reagindo a qualquer estímulo casual do momento imediato, a mercê de seu mecanismo sensitivo-perceptivo desgovernado e de qualquer conexão associativa aleatória que ele possa acabar fazendo.
Quando o homem desfocaliza sua mente, pode-se dizer que ele está consciente em um sentido subhumano, já que ele experiencia sensações e percepções. Mas no sentido da palavra aplicável ao homem – no sentido de uma consciência que está atenta à realidade e capaz de lidar com ela, uma consciência capaz de direcionar suas ações e cuidar da sobrevivência de um ser humano – uma mente desfocalizada não é consciente.
Psicologicamente, a escolha de “pensar ou não” é a escolha de “focalizar ou não”. Existencialmente, a escolha de “focalizar ou não” é a escolha de “ser consciente ou não”. Metafisicamente, a escolha de “ser consciente ou não” é a escolha de vida ou morte.
Consciência – para aqueles organismos vivos que a possuem – é o meio básico de sobrevivência. Para o homem, o meio básico de sobrevivência é a razão. O homem não pode sobreviver, como os animais, pela orientação de meros sentidos. Uma sensação de fome dirá a ele que ele precisa de comida (se ele aprendeu a identificá-la como “fome”), mas ela não irá dizer a ele como obter sua comida, e ela não irá dizer a ele qual comida é boa para ele ou qual é envenenada. Ele não pode cuidar de suas necessidades físicas mais simples sem um processo de pensamento. Ele precisa de um processo de pensamento para descobrir como plantar e fazer sua comida crescer, ou como fazer armas para caçar. Seus sentidos podem levá-lo a uma caverna, se estiver disponível – mas para construir o abrigo mais simples, ele precisa de um processo de pensamento. Nenhum sentido e nenhum “instinto” irão dizer a ele como acender fogo, como tecer roupa, como forjar ferramentas, como fazer uma roda, como fazer um avião, como executar uma apendicetomia, como produzir uma lâmpada ou um tubo eletrônico ou um cíclotron ou uma caixa de fósforos. Mesmo assim sua vida depende desse conhecimento – e somente um ato volitivo de sua consciência, um processo de pensamento, pode possibilitar isso.
Mas a responsabilidade do homem vai ainda mais longe: um processo de pensamento não é automático, nem “instintivo”, nem involuntário, nem infalível. O homem deve iniciá-lo, sustentá-lo e arcar com a responsabilidade de seus resultados. Ele deve descobrir como dizer o que é verdade ou falso e como corrigir seus próprios erros; ele deve descobrir como confirmar seus conceitos, suas conclusões, seu conhecimento; ele deve descobrir as regras do pensamento, as leis da lógica, direcionar seu pensamento. A natureza não dá a ele garantia automática da eficácia de seu esforço mental.
Nada é dado ao homem na terra, exceto um potencial e o material no qual ele o executa. O potencial é uma máquina superlativa: sua consciência; mas ela é uma máquina sem uma vela de ignição, uma máquina cuja própria vontade deve ser a vela de ignição, o arranque automático e o motorista; ele deve descobrir como usá-la e ele deve mantê-la em constante ação. O material é o total do universo, sem limites impostos ao conhecimento que o homem pode adquirir e ao aproveitamento da vida que ele pode alcançar. Mas tudo o que ele precisa ou deseja deve ser aprendido, descoberto e produzido por ele – por sua própria escolha, por seu próprio esforço, por sua própria mente.
Um ser que não sabe automaticamente o que é verdade ou falso, não pode saber automaticamente o que é certo ou errado, o que é bom ou mau para ele. Mesmo assim ele precisa desse conhecimento para viver. Ele não é dispensado das leis da realidade, ele é um organismo de uma natureza específica que exige ações específicas para sustentar sua vida. Ele não pode alcançar sua sobrevivência por meios arbitrários, nem por movimentos aleatórios, nem por desejo cego, nem por acaso, nem por veneta. Aquilo que sua sobrevivência exige é determinado pela sua natureza e não é aberto à sua escolha. O que é aberto à sua escolha é somente se ele irá descobrir ou não, se ele irá escolher os objetivos e valores corretos ou não. Ele é livre para fazer a escolha errada, mas não é livre para suceder com isso. Ele é livre para escapar da realidade, ele é livre para desfocalizar sua mente e rolar cegamente abaixo qualquer estrada que lhe agradar, mas não é livre para evitar o abismo que ele se recusa a ver. Conhecimento, para qualquer organismo vivo, é o meio de sobrevivência; para uma consciência viva, todo “ser” implica em um “dever ser”. O homem é livre para escolher não ser consciente, mas não é livre para escapar da penalidade da inconsciência: destruição. O homem é a única espécie viva que tem o poder de agir como seu próprio destruidor – e é dessa forma que ele tem agido durante a maior parte de sua história.
Quais, então, são os objetivos corretos para que um homem busque? Quais são os valores que sua sobrevivência exige? Essa é a questão a ser respondida pela ciência da ética. E isso, senhoras e senhores, é porque o homem precisa de um código de ética.
Agora você pode avaliar o significado das doutrinas que dizem a você que a ética é ocupação do irracional, que a razão não pode guiar a vida humana, que seus objetivos e valores devem ser escolhidos por voto ou por veneta – que a ética não tem nada a ver com a realidade, com a existência, com as ações práticas ou interesses de alguém – ou que o objetivo da ética está além do túmulo, que os mortos precisam de ética, e não os vivos.
A ética não é uma fantasia mística; nem uma convenção social; nem um luxo subjetivo dispensável, a ser trocado ou descartado em uma emergência. A ética é uma necessidade objetiva, metafísica, para a sobrevivência do homem ? não pela graça do sobrenatural, nem dos seus vizinhos, nem das suas venetas, mas pela graça da realidade e da natureza da vida.
Eu cito o discurso de Galt:
O ser humano tem sido chamado de um ser racional, mas a racionalidade é uma questão de escolha – e a alternativa que a natureza oferece a ele é: ser racional ou animal suicida. O homem deve ser homem – por escolha; ele deve considerar sua vida como um valor – por escolha; ele deve aprender a sustentá-la – por escolha; ele deve descobrir os valores que ela exige e praticar suas virtudes – por escolha. Um código de valores aceito por escolha é um código de moralidade.
O padrão de valor da ética Objetivista – o padrão pelo qual se julga o que é bom ou mau – é a vida humana, ou: aquilo que é necessário para a sobrevivência humana como homem.
Visto que a razão é o meio básico de sobrevivência do homem, aquilo que é adequado à vida de um ser racional é o bom; aquilo que a nega, a ela se opõe ou destrói é o mau.
Visto que tudo o que o homem precisa deve ser descoberto através de sua própria mente e produzido pelo seu próprio esforço, os dois princípios básicos do método de sobrevivência adequado a um ser racional são: raciocínio e trabalho produtivo.
Se alguns homens não escolherem pensar, mas sobreviver por imitação e repetição, como animais treinados, em uma rotina de sons e movimentos que eles aprenderam de outros, nunca fazendo um esforço para entender seu próprio trabalho, ainda permanece verdade que sua sobrevivência é tornada possível somente por aqueles que escolheram raciocinar e descobrir os movimentos que eles estão repetindo. A sobrevivência de tais parasitas mentais depende do acaso; suas mentes desfocalizadas são incapazes de saber quem imitar, quais movimentos são seguros de acompanhar. Eles são os homens que caminham para o abismo, rastejando através de qualquer destruidor que promete a eles assumir a responsabilidade da qual eles escapam: a responsabilidade de estar consciente.
Se alguns homens tentarem sobreviver por meio de força bruta ou trapaça, saqueando, roubando, enganando ou escravizando os homens que produzem, ainda permanece verdade que sua sobrevivência é tornada possível somente por suas vítimas, somente pelos homens que escolhem raciocinar e produzir os bens que eles, os saqueadores, estão confiscando. Tais saqueadores são parasitas incapazes de sobrevivência, que existem através da destruição daqueles que sãocapazes, aqueles que estão perseguindo um curso de ação adequado ao homem.
Os homens que tentam sobreviver, não por meio da razão, mas por meio da força, estão tentando sobreviver pelo método dos animais. Mas assim como os animais não seriam capazes de sobreviver tentando o método das plantas, recusando a locomoção e esperando para que o solo os alimente – também os homens não podem sobreviver tentando o método dos animais, recusando a razão e contando com homens produtivos para servir como sua presa. Tais saqueadores podem alcançar seus objetivos no momento imediato, ao preço da destruição: a destruição das vítimas e a sua própria. Como evidência, eu os ofereço qualquer criminoso ou qualquer ditador.
O homem não pode sobreviver, como um animal, agindo em função do momento imediato. A vida de um animal consiste em uma série de ciclos separados, repetidos, como o ciclo de alimentação de seus filhotes, ou de guardar alimento para o inverno; a consciência de um animal não pode perfazer sua expectativa de vida inteira; ela pode levar avante até um ponto em que o animal deve começar o ciclo novamente, sem conexão com o passado. A vida humana é um todo contínuo: por bem ou mal, todo dia, ano e década de sua vida contém a soma de todos os dias atrás. O homem pode alterar suas escolhas, ele é livre para mudar a direção de seu curso, ele é até livre, em muitos casos, para reconciliar-se com as consequências de seu passado – mas ele não é livre para escapar delas, nem para viver sua vida com impunidade no momento imediato, como um animal, um playboy, ou um criminoso. Se ele deseja suceder na tarefa de sobreviver, se suas ações não são voltadas para sua destruição, o homem deve escolher seu curso, seus objetivos, seus valores, no contexto e termos de toda uma vida. Sensações, sentidos, desejos ou “instintos” não poderão fazê-lo; só uma mente pode.
Tal é o significado da definição: aquilo que é necessário para a sobrevivência do homem como homem. Isso não significa uma sobrevivência momentânea ou meramente física. Isso não significa a sobrevivência física momentânea de um bruto sem mente, esperando por outro bruto para esmagar seu crânio. Isso não significa a sobrevivência física momentânea de um agregado de músculos rastejante que está disposto a aceitar qualquer condição, obedecer qualquer criminoso ou renunciar quaisquer valores, por causa do que é conhecido como “sobrevivência a qualquer preço”, que pode ou não durar uma semana ou um ano. “A sobrevivência do homem como homem” significa os termos, métodos, condições e objetivos necessários para a sobrevivência de um ser racional durante toda a sua vida – em todos aqueles aspectos da existência que estão abertos à sua escolha.
O homem não pode sobreviver como nada além de homem. Ele pode abandonar seus meios de sobrevivência, sua mente, ele pode tornar-se uma criatura subhumana e ele pode tornar sua vida em um breve instante de agonia – assim como o seu corpo pode existir por um tempo no processo de desintegração por enfermidade. Mas ele não pode suceder, como um subhumano, em alcançar algo além do subhumano – como o terrível horror dos períodos antiracionais da história da humaninade pode demonstrar. O homem deve ser homem por escolha – e é a tarefa da ética a ensiná-lo a viver como homem.
A ética Objetivista considera a vida humana como o padrão de valor – e sua própria vida como o propósito ético de todo indivíduo.
A diferença entre “padrão” e “propósito” nesse contexto é a seguinte: um “padrão” é um princípio abstrato que serve como uma medida para guiar as escolhas humanas no alcance de um propósito específico, concreto. “Aquilo que é necessário para a sobrevivência do homem como homem” é um princípio abstrato que se aplica a todo indivíduo. A tarefa de aplicar esse princípio a um propósito específico, concreto – o propósito de uma vida adequada a um ser racional – pertence a todo indivíduo, e à vida que ele deve viver por si.
O homem deve escolher suas ações, valores e objetivos pelo padrão daquilo que é adequado ao homem – em ordem para alcançar, manter, satisfazer e aproveitar aquele valor supremo, aquele fim em si mesmo, que é a sua própria vida.
Valor é aquilo que se age para alcançar e/ou manter – virtude é o ato através do qual se alcança e/ou se mantém o valor. Os três valores cardinais da ética Objetivista – os três valores que, juntos, são os meios para e a realização do valor supremo, a vida são: Razão, Propósito, Auto-Estima, com suas três virtudes correspondentes: Racionalidade, Produtividade, Orgulho.
Trabalho produtivo é o propósito central da vida de um homem racional, o valor central que integra e determina a hierarquia de todos os seus outros valores. Razão é a fonte, a precondição de seu trabalho produtivo – orgulho é o resultado.
Racionalidade é a virtude básica do homem, a fonte de todas as suas outras virtudes. A falha básica do homem, a fonte de todos os seus infortúnios, é o ato de desfocalizar sua mente, a suspensão de sua consciência, que não é cegueira, mas a rejeição de ver, não é ignorância, mas a rejeição de saber. Irracionalidade é a rejeição do meio de sobrevivência humano e, então, um compromisso a um curso de destruição cega; aquilo que é anti-mente é anti-vida.
A virtude da Racionalidade significa o reconhecimento e aceitação da razão como a única fonte de conhecimento, o único juiz de valores e o único guia para a ação. Significa o compromisso total a um estado de completa atenção consciente, à manutenção de uma concentração mental completa em todas as questões, em todas as escolhas, todo o tempo. Significa um compromisso à mais completa percepção da realidade dentro de seu poder e à expansão constante de sua percepção, i.e., de seu conhecimento. Significa um compromisso à realidade de sua própria existência, i.e., ao princípio de que todos os seus objetivos, valores e ações tomam lugar na realidade e, então, que nunca se deve considerar qualquer valor ou consideração, seja qual for, acima de sua percepção da realidade. Significa um compromisso ao princípio de que todas as suas convicções, valores, objetivos, desejos e ações devem ser baseados, derivados, escolhidos e validados por um processo de pensamento – um processo de pensamento tão preciso e escrupuloso, direcionado por uma aplicação da lógica implacavelmente estrita, quanto sua capacidade permitir. Significa a aceitação da responsabilidade de formar seus próprios julgamentos e de viver pelo trabalho de sua própria mente (que é a virtude da Independência). Significa que nunca se deve sacrificar suas convicções às opiniões e vontades de outros (que é a virtude da Integridade) – que nunca se deve tentar falsificar a realidade de qualquer maneira (que é a virtude da Honestidade) – que nunca se deve procurar ou conceder o não merecido, nem em matéria nem em espírito (que é a virtude da Justiça). Isso significa que nunca se deve desejar efeitos sem causas, e que nunca se deve pôr em prática uma causa sem se assumir a responsabilidade completa por seus efeitos – que nunca se deve agir como um zumbi,i.e., sem saber seus propósitos ou motivos – que nunca se deve tomar quaisquer decisões, formar quaisquer convicções ou procurar quaisquer valores fora do contexto, i.e., à parte de ou contra a soma integrada total de seu conhecimento – e, sobretudo, que nunca se deve procurar fugir com contradições. Significa a rejeição a qualquer forma de misticismo, i.e., qualquer declaração de qualquer fonte de conhecimento não-racional, não-definível, sobrenatural. Significa um compromisso com a razão, não em situações esporádicas ou em questões selecionadas ou em emergência especiais, mas como um estilo de vida permanente.
A virtude da Produtividade é o reconhecimento do fato de que o trabalho produtivo é o processo pelo qual a mente humana sustenta sua vida, o processo que torna o homem livre da necessidade de se ajustar ao seu ambiente, como os animais fazem, e dá-lhe o poder de ajustar seu ambiente a si. Trabalho produtivo é a estrada para as realizações ilimitadas do homem e apela para os atributos mais superiores de seu caráter: sua habilidade criativa, sua ambição, auto-assertividade, sua rejeição a tolerar desastres incontestados, sua dedicação ao objetivo de transformar a terra à imagem de seus valores. “Trabalho produtivo” não significa o desempenho inconsciente dos movimentos de algum trabalho. Significa a busca conscientemente escolhida de uma carreira produtiva, em qualquer linha de esforço racional, importante ou modesto, em qualquer nível de habilidade. Não é o nível da habilidade de um homem, nem a escala de seu trabalho que é eticamente relevante aqui, mas o uso mais completo de sua mente.
A virtude do Orgulho é o reconhecimento do fato – de que assim como o homem deve produzir os valores físicos que ele precisa para sustentar sua vida, ele também deve adquirir os valores de caráter que tornam à pena a sustentação de sua vida -”que assim como o homem é um ser que produz sua riqueza, ele também é um ser que constrói sua alma” (Atlas Shrugged). A virtude do Orgulho pode ser mais bem descrita pelo termo “ambição moral”. Ele significa que se deve merecer o direito de considerar a si próprio como seu mais elevado valor alcançando sua própria perfeição moral – que se alcança por nunca aceitar qualquer código de virtudes irracionais impossível de praticar e nunca falhando ao praticar as virtudes que se sabe serem racionais – nunca aceitando uma culpa não merecida e nunca merecendo alguma, ou, se se mereceu, nunca a deixando não consertada – nunca se renunciando passivamente de qualquer falha em seu caráter – nunca pondo qualquer interesse, desejo, medo ou ânimo do momento acima da realidade de sua própria auto-estima. E, sobretudo, isso significa a rejeição de seu papel de um animal sacrificável, a rejeição de qualquer doutrina que prega auto-imolação como uma virtude moral ou obrigação.
O princípio social básico da ética Objetivista é que assim como a vida é um fim em si mesmo, também todo ser humano vivo é um fim em si mesmo, não os meios para os fins ou o bem-estar dos outros – e, então, que o homem deve viver para sua própria causa, nem se sacrificando para outros, nem sacrificando outros para si. Viver para sua própria causa significa que a realização de sua própria felicidade é o propósito moral do homem.
Em termos psicológicos, a questão da sobrevivência humana não confronta sua consciência como uma questão de “vida ou morte”, mas como uma questão de “felicidade ou sofrimento”. Felicidade é o estado de vida vitorioso, sofrimento é o sinal de aviso de fracasso, de morte. Assim como o mecanismo de prazer-dor do corpo humano é um indicador automático do bem-estar ou mal-estar de seu corpo, um barômetro de sua alternativa básica, vida ou morte – também o mecanismo emocional da consciência humana é adequado para executar a mesma função, como um barômetro que registra a mesma alternativa por meio de duas emoções básicas: felicidade ou sofrimento. Emoções são o resultado automático dos julgamentos de valor do homem, integrados pelo seu subconsciente; emoções são estimativas daquilo que favorece os valores do homem ou os ameaça, aquilo que é a favor si ou contra si – pondo calculadoras em funcionamento, dando a ele a soma de seu lucro ou prejuízo.
Mas enquanto que o padrão de valor operando o mecanismo físico de prazer-dor do corpo humano é automático e inato, determinado pela natureza de seu corpo – o padrão de valor operando seu mecanismo emocional, não é. Visto que o homem não tem conhecimento automático, ele não pode ter valores automáticos; visto que ele não tem idéias inatas, ele não pode ter julgamentos de valor inatos.
O homem nasce com um mecanismo emocional, assim como ele nasce com um mecanismo cognitivo; mas, no nascimento, ambos são “tabula rasa”. É a faculdade cognitiva humana, sua mente, que determina o conteúdo de ambos. O mecanismo emocional humano é como um computador eletrônico, que sua mente deve programar – e a programação consiste dos valores que sua mente escolhe.
Mas visto que o trabalho da mente humana não é automático, seus valores, como todas suas premissas, são o produto de seu pensamento ou de suas evasões: o homem escolhe seus valores por um processo consciente de pensamento – ou os aceita por ausência, por associações subconscientes, por fé, por autoridade de alguém, por alguma forma de osmose social ou imitação cega. Emoções são produzidas pelas premissas do homem, consideradas conscientemente ou subconscientemente, explicitamente ou implicitamente.
O homem não tem escolha sobre sua capacidade de sentir que algo é bom ou mau para ele, mas o que ele irá considerar bom ou mal, o que irá proporcionar felicidade ou sofrimento a ele, o que ele irá amar ou detestar, desejar ou sentir medo, depende do seu padrão de valor. Se ele escolhe valores irracionais, ele substitui seu mecanismo emocional do papel de seu guardião para o papel de seu destruidor. O irracional é o impossível; é aquilo que contradiz os fatos da realidade; fatos não podem ser alterados por um desejo, mas eles podem destruir aquele que deseja. Se um homem deseja e persegue contradições – se ele deseja ter seu bolo e comê-lo, também – ele desintegra sua consciência; ele torna sua vida íntima em uma guerra civil de forças cegas engajadas em conflitos escuros, incoerentes, sem propósito, sem sentido (que, incidentalmente, é o estado interior da maioria das pessoas hoje).
A felicidade de uma pessoa é o estado de consciência que procede a realização de seus valores. Se um homem valoriza trabalho produtivo, sua felicidade é a medida do seu sucesso no serviço de sua vida. Mas se um homem valoriza destruição, como o sadista – o auto-torturador, como um masoquista – ou vida além do túmulo, como um místico – ou prazeres descuidados, como o motorista de um carro Hot Rod – sua suposta felicidade é a medida do seu sucesso a serviço de sua própria destruição. Deve ser adicionado que o estado emocional de todos aqueles irracionalistas não pode ser propriamente designado como felicidade ou mesmo como prazer: é meramente um alívio momentâneo de seu estado crônico de terror.
Nem vida, nem felicidade podem ser alcançadas pela perseguição de venetas irracionais. Assim como o homem é livre para tentar sobreviver por qualquer meio aleatório, como um parasita, um vadio ou um ladrão, mas não é livre para suceder além do momento imediato – ele também é livre para buscar sua felicidade em qualquer fraude irracional, qualquer veneta, qualquer desilusão, qualquer fuga descuidada da realidade, mas não é livre para suceder além do momento imediato, nem para escapar das consequências.
Eu cito o discurso de Galt:
“Felicidade é um estado de alegria não-contraditória – uma alegria sem castigo ou culpa, uma alegria que não entra em confronto com nenhum de seus valores e não trabalha para sua própria destruição. Felicidade é possível somente para um homem racional, o homem que não deseja nada além de objetivos racionais, não busca nada além de valores racionais ou não encontra sua alegria em nada além de ações racionais”.
A manutenção da vida e a busca da felicidade não são duas questões separadas. Considerar sua própria vida como seu valor supremo, e sua própria felicidade como seu propósito supremo são dois aspectos da mesma realização. Existencialmente, a atividade de buscar objetivos racionais é a atividade de manter sua vida; psicologicamente, seu resultado, recompensa e consequência é um estado emocional de felicidade. É experienciando a felicidade que se vive uma vida, em qualquer hora, ano ou vida inteira. E quando se experiencia o tipo de felicidade pura que é um fim em si mesmo – o tipo que se faz pensar: “Por isso se vale á pena viver”? o que se está bendizendo e afirmando em termos emocionais é o fato metafísico de que a vida é um fim em si mesmo.
Mas a relação de causa e efeito não pode ser revertida. Somente aceitando a “vida humana” como sua primária, e buscando os valores racionais que ela exige, é que se alcança a felicidade – não adotando “felicidade” como uma primária indefinida, irredutível, e então tentando viver por sua orientação. Se você alcança aquilo que é bom em um padrão de valor racional, isso irá necessariamente fazer você feliz; mas aquilo que o faz feliz, por algum padrão emocional indefinido, não é necessariamente o bom. Adotar – seja o que for que o faça feliz – como um guia para ação significa: ser guiado por nada além de suas venetas emocionais. Emoções não são ferramentas de cognição; ser guiado por venetas – por desejos cuja fonte, natureza e significado não se sabe – é tornar-se um robô cego, operado por demônios incognoscíveis (por suas evasões rotineiras), um robô golpeando seu cérebro mofado nas paredes da realidade que ele se recusa a ver.
Essa é a falácia inerente ao hedonismo – em qualquer variante de hedonismo ético, pessoal ou social, individual ou coletivo. “Felicidade” pode ser propriamente o propósito da ética, mas não o padrão. A tarefa da ética é de definir o código de valores adequado para o homem, e então dar a ele os meios para alcançar felicidade. Declarar, como éticos hedonistas fazem, que – o valor adequado é qualquer coisa que lhe dê prazer – é declarar que o “valor adequado é qualquer coisa que você acaba valorizando” – o que é um ato de abdicação intelectual e filosófica, um ato que meramente proclama a futilidade da ética e convida todos os homens a fazerem o que quiser sem considerar as consequências de suas ações.
Os filósofos que tentaram desenvolver alegadamente um código de ética racional não deram à humanidade nada além da escolha de venetas: a busca “egoísta” de suas venetas (como a ética de Nietzsche) – ou o serviço “altruísta” a serviço da veneta de outros (como a ética de Bentham, Mill, Comte e de todos hedonistas sociais, independentemente deles permitirem ao homem incluir suas próprias venetas entre os milhões de outras, ou o aconselharem a tornar-se um “shmoo” [3] totalmente altruísta que busca ser comido pelos outros).
Quando um “desejo”, independentemente da sua natureza ou causa, é adotado como uma primária ética, e a satisfação de qualquer e todos os desejos é adotado como um objetivo ético (como “a maior felicidade do maior número”) – os homens não têm escolha além de odiar, sentir medo e lutar uns contra os outros, porque seus desejos e seus interesses irão necessariamente se confrontar. Se “desejo” é o padrão ético, então o desejo de um homem de produzir e o desejo de outro homem de roubá-lo tem igual validade ética; o desejo de um homem de ser livre e o desejo de outro homem de escravizá-lo tem igual validade ética; o desejo de um homem de ser amado e admirado por suas virtudes e o desejo de outro homem de amor não merecido e admiração não obtida tem igual validade ética. E se a frustração de qualquer desejo constitui um sacrifício, então um homem que é dono de um automóvel e é roubado está sendo sacrificado, mas também está o homem que quer ou “aspira” ter um automóvel cujo dono se recusa a dar a ele – e esses dois “sacrifícios” tem igual status ético. Se for assim, então a única escolha do homem é a de roubar ou ser roubado, de destruir ou ser destruído, de sacrificar outros a qualquer desejo seu ou sacrificar-se a qualquer desejo de outros; então a única alternativa do homem é ser um sadista ou um masoquista.
O canibalismo moral de todas as doutrinas hedonistas e altruístas repousa na premissa de que a felicidade de um homem necessita do prejuízo de outro.
Hoje, a maioria das pessoas considera essa premissa e um absoluto a não ser questionado. E quando se fala dos direitos do homem de existir para sua própria causa, para seu próprio auto-interesse, a maioria das pessoas assume automaticamente que isso significa seu direito de sacrificar outros. Tal assunção é uma confissão de sua própria crença de que causar dano, escravizar, roubar ou assassinar outros é do auto-interesse do homem – que ele deve abnegadamente renunciar. A idéia de que o auto-interesse do homem pode ser servido somente por uma relação de não-sacrifício com outros nunca ocorreu a esses apóstolos humanitários da generosidade, que proclamam seu desejo de alcançar a irmandade dos homens. E não irá ocorrer a eles, ou a ninguém, enquanto o conceito de “racional” for omitido do contexto de “valores”, “desejos”, “auto-interesse” e ética.
A ética Objetivista orgulhosamente advoga e defende egoísmo racional – o que significa: os valores necessários para a sobrevivência do homem como homem – o que significa: os valores necessários para a sobrevivência humana – não os valores produzidos pelos desejos, as emoções, as “aspirações”, os sentimentos, as venetas ou as necessidades de brutos irracionais, que nunca se livraram da prática primitiva de sacrifícios humanos, que nunca descobriram uma sociedade industrial e não conseguem compreender auto-interesse além daquele de tomar o roubo do momento.
A ética Objetivista considera que o bom para o ser humano não necessita de sacrifícios humanos e não pode ser alcançado pelo sacrifício de alguém a alguém. Ela defende que os interesses racionais dos homens não se confrontam ? que não há conflito de interesses entre homens que não desejam o não merecido, que não fazem sacrifícios nem os aceitam, que lidam com os outros como negociantes, trocando valor por valor.
O princípio da troca é o único princípio ético racional para todas as relações humanas, pessoais e sociais, privadas e públicas, espirituais e materiais. É o princípio da justiça.
Um negociante é um homem que merece o que ele consegue e não dá ou recebe o não merecido. Ele não trata homens como mestres ou escravos, mas como iguais independentes. Ele lida com homens por meio de uma troca livre, voluntária, não forçada, não coagida – uma troca que beneficia ambos os lados por seu próprio julgamento independente. Um negociante não espera ser pago por suas falhas, somente por suas realizações. Ele não transfere a outros a carga de suas falhas, e ele não hipoteca sua vida em sujeição às falhas dos outros.
Em questões espirituais (por “espiritual” eu digo: “relacionado à consciência do homem”) a moeda ou o meio de troca é diferente, mas o princípio é o mesmo. Amor, amizade, respeito, admiração são a resposta emocional de um homem às virtudes de outro, o pagamento espiritual dado em troca pelo prazer egoísta pessoal que um homem obtém das virtudes do caráter de outro homem. Somente um bruto ou um altruísta clamaria que a apreciação das virtudes de outra pessoa é um ato de abnegação, que enquanto que o seu próprio interesse egoísta e prazer estiverem satisfeitos, não faz diferença se se lida com um gênio ou um tolo, se se conhece um herói ou um criminoso, se se casa com a mulher ideal ou uma prostituta. Em questões espirituais, um negociante é um homem que não procura ser amado por suas fraquezas ou falhas, somente por suas virtudes, e que não concede seu amor às fraquezas ou falhas de outros, somente às suas virtudes.
Amar é valorizar. Somente um homem egoísta, um homem de auto-estima, é capaz de amar – porque ele é o único homem capaz de ter valores firmes, consistentes, inflexíveis, leais. O homem que não se valoriza não pode valorizar algo ou alguém.
O homem pode obter algum benefício pessoal da vivência em uma sociedade humana? Sim – se for uma sociedade humana. Os dois grandes valores a serem ganhos com a existência social são: conhecimento e troca. O homem é a única espécie que pode transmitir e expandir seu estoque de conhecimento de geração a geração; o conhecimento potencialmente disponível para o homem é maior que o que qualquer homem poderia começar a adquirir em sua própria vida; todo homem obtêm um benefício incalculável do conhecimento descoberto por outros. O segundo grande benefício é a divisão do trabalho: ela possibilita que o homem devote seu esforço a um campo de trabalho particular e a trocar com outros que se especializaram em outros campos. Essa forma de cooperação permite a todos os homens que dela fazem parte a alcançar um maior conhecimento, habilidade e retorno produtivo de seus esforços do que eles poderiam alcançar se cada um tivesse que produzir tudo que ele necessitasse, em uma ilha deserta ou em uma fazenda de subsistência.
Mas esses tipos de benefício indicam, delimitam e definem que tipo de homem pode ser de valor ao outro e em que tipo de sociedade: somente homens racionais, produtivos, independentes em uma sociedade racional, produtiva, livre. Parasitas, vadios, ladrões, brutos e criminosos não podem ser de valor para um ser humano – nem ele [o ser humano] pode obter qualquer benefício da vivência em uma sociedade voltada às suas necessidades [dos parasitas], demandas e proteção, uma sociedade que o ameaça como um animal sacrificável e o penaliza por suas virtudes em ordem para recompensá-los pelos seus vícios, o que significa: uma sociedade baseada na ética do altruísmo. Nenhuma sociedade pode ser de valor à vida do homem se o preço é a renúncia ao seu direito de viver.
O princípio político básico da ética Objetivista é: nenhum homem pode iniciar o uso da força contra outros. Nenhum homem – ou grupo, ou sociedade, ou governo – tem o direito de assumir o papel de um criminoso e iniciar o uso de compulsão física contra qualquer homem. Os homens têm o direito de usar força física somente em retaliação e somente contra aqueles que iniciaram seu uso. O princípio ético envolvido é simples e nítido: é a diferença entre assassinato e autodefesa. Um assassino procura obter um valor, riqueza, matando sua vítima; a vítima não se torna mais rica matando um assassino. O princípio é: nenhum homem pode obter qualquer valor de outros se utilizando de força física.
O único propósito moral adequado de um governo é o de proteger os direitos do homem, o que significa: protegê-lo de violência física – proteger seu direito à sua própria vida, à sua própria liberdade, à sua própria propriedade e à busca de sua felicidade. Sem direitos de propriedade, nenhum outro direito é possível.
Eu não irei tentar, em uma lição breve, discutir a teoria política do Objetivismo. Aqueles que estão interessados irão achá-la de forma detalhada em Atlas Shrugged. Eu irei dizer somente que todo sistema político é baseado e derivado de uma teoria de ética – e que a ética Objetivista é a base moral necessária por aquele sistema político-econômico que, hoje, está sendo destruído ao redor de todo o mundo, destruído precisamente pela falta de uma defesa filosóficamoral e validação: o sistema original Americano, Capitalismo. Se ele perecer, ele irá perecer por falta de defesa, desconhecida e não identificada: nenhum outro assunto tem sido escondido por tantas distorções, concepções erradas, más interpretações. Hoje, poucas pessoas sabem o que é capitalismo, como ele funciona e o qual foi a sua história real.
Quando eu falo “capitalismo” eu quero dizer um capitalismo laissez-faire completo, puro, descontrolado, desregulado – com uma separação do estado e da economia, da mesma forma e pelas mesmas razões da separação do estado e da igreja. Um sistema puro de capitalismo nunca existiu, nem mesmo na América; vários níveis de controle governamental têm o enfraquecido e distorcido desde o começo. O capitalismo não é o sistema do passado; é o sistema do futuro – se a humanidade deseja ter um futuro.
Para aqueles que estão interessados na história e nas causas psicológicas da traição dos filósofos contra o capitalismo, eu irei mencionar que eu os examino no ensaio-título de meu livro For the New Intellectual [Para o Novo Intelectual].
A discussão presente deve ser confinada ao assunto da ética. Eu apresentei os princípios básicos do meu sistema, mas eles são suficientes para indicar em que maneira a ética Objetivista é a moralidade da vida – em oposição às três maiores escolas da teoria ética, a mística, a social, a subjetiva, que trouxeram o mundo a seu estado presente, e que representam a moralidade da morte.
Essas três escolas diferem somente em seus métodos de abordagem, não em seu conteúdo. Em conteúdo, elas são meramente variantes do altruísmo, a teoria ética que considera o homem como um animal sacrificável, que defende que o homem não tem direito de existir pela sua própria causa, que o serviço aos outros é a única justificativa para sua existência, e que o auto-sacrifício é sua mais elevada responsabilidade moral, virtude e valor. As diferenças ocorrem somente sobre a pergunta de quem deve ser sacrificado por quem. O altruísmo defende que a morte é o objetivo supremo e o padrão de valor – e é lógico que a abdicação, resignação, renúncia, e toda outra forma de sofrimento, incluindo auto-destruição, são virtudes que ela defende. E, logicamente, essas são as únicas coisas que os praticantes do altruísmo alcançaram e estão alcançando agora.
Observe que essas três escola de teoria ética são anti-vida, não meramente em conteúdo, mas também em seu método de abordagem.
A teoria mística de ética é explicitamente baseada na premissa de que o padrão de valor da ética do homem é determinado além do túmulo, pelas leis ou exigências de outra dimensão sobrenatural, que é impossível que o homem pratique a ética, que ela é incompatível com ele, e é contrária à vida do homem na terra, e que o homem deve aceitar a culpa por isso e sofrer durante toda a sua existência terrestre, sofrer penitência pela culpa de ser incapaz de praticar o impraticável. A Idade das Trevas e a Idade Média são monumentos existenciais dessa teoria de ética.
A teoria social da ética substitui “sociedade” por “Deus” – e ainda que ela declare que sua preocupação principal é a vida na terra, não é a vida do homem, não a vida de um indivíduo, mas a vida de uma entidade sem corpo, o coletivo, que, em relação a todo indivíduo, consiste de todos exceto ele mesmo. No que se refere ao indivíduo, sua obrigação ética é ser abnegado, insignificante, escravo de qualquer necessidade, reivindicação ou exigência expressa por outros. Os monumentos existenciais dessa teoria são a Alemanha nazista e a Rússia soviética.
A teoria subjetivista da ética é, estritamente falando, não uma teoria, mas uma negação da ética. E mais: é uma negação da realidade, uma negação não só da existência humana, mas de toda a existência. Somente o conceito de um universo Heráclitoniano, elástico, flexível, indeterminado, poderia permitir qualquer um a pensar ou a pregar que o homem não precisa de princípios objetivos de ação – que a realidade lhe dá um cheque em branco para seus valores – que qualquer coisa que ele desejar escolher como o bom ou o mau irão funcionar – que as venetas de um homem são um padrão moral válido, e que a única questão é como escapar sem sofrer punição. O monumento existencial a essa teoria é o estado presente de nossa cultura.
Não é a imoralidade dos homens que é responsável pelo colapso agora ameaçando destruir o mundo civilizado, mas o tipo de moralidades que pediram para os homens praticarem. A responsabilidade é dos filósofos do altruísmo. Eles não têm motivo para estarem chocados pelo espetáculo de seu próprio sucesso, e não têm direito de praguejar da natureza humana: os homens têm os obedecido e trouxeram seus ideais morais em completa realidade.
É a filosofia que determina os objetivos dos homens e determina seu curso; é somente a filosofia que pode salvá-los agora. Hoje, o mundo está enfrentando uma escolha: se a civilização deseja sobreviver, é a ética altruísta que os homens devem rejeitar.
Eu irei encerrar com as palavras de John Galt, as quais eu dirijo, como ele fez, aos moralistas do altruísmo, passados ou presentes:
“Vocês têm usado o medo como a sua arma e têm trazido morte ao homem como sua punição por rejeitar sua moralidade. Nós oferecemos vida a eles, como sua recompensa por aceitar a nossa.”
Notas:
* Quando aplicado aos fenômenos físicos, como às funções automáticas de um organismo, o termo “dotada de objetivo” não quer dizer “proposital” (um conceito aplicável somente às ações de uma consciência) e não implica na existência de qualquer princípio teleológico operando em natureza inanimada. Eu uso o termo “dotada de objetivo”, nesse contexto, para designar o fato de que as funções automáticas dos organismos vivos são ações cuja natureza é tal que elas resultam na preservação da vida do organismo.
[1] A palavra “veneta” foi usada para a tradução da palavra inglesa “whim”. Ayn Rand conceitua “whim” no parágrafo seguinte: “desejo experimentado por uma pessoa que não sabe e não se importa em descobrir a sua causa”. A segunda acepção de “veneta” – “impulso repentino” – do Novo Dicionário Eletrônico Aurélio, versão 5.0, pode ser utilizada nesse contexto.
[2] Utilizou-se o termo “dados dos sentidos” para tradução do termo inglês “sense data”, de acordo com o Glossário filosófico inglês-português do siteCrítica. Para saber mais, cf. Sense data, Wikipedia.
[3] Personagem de desenho animado produzido pelos estúdios Hanna-Barbera. Shmoo era um animal extremamente amoroso, ingênuo e solidário. Muito já foi dito a seu respeito (inclusive sobre ser uma alusão ao comunismo e à caça às bruxas promovida pelo macartismo). Cf. The New Shmoo, Wikipédia.
// Tradução de Luiz Mário Brotherhood.