Economia bretton woods

Publicado em 20 de fevereiro de 2014 | por Douglas French

A Arrogância Fatal de Bretton Woods

A Batalha de Bretton Woods: John Maynard Keynes, Harry Dexter White e o Nascimento de uma Nova Ordem Mundial

No meu caminho de ida para a Porcfest em Junho de 2013, eu passei por Bretton Woods – o local de nascimento do que pode ser considerada a antítese do evento defensor da liberdade e do Bitcoin.

As coincidências não param por aí: recentemente eu tinha começado a ler o livro de Benn Steil, The Battle of Bretton Woods: John Maynard Keynes, Harry Dexter White, and the making of a New World Order [Tradução livre, “A Batalha de Bretton Woods: Johna Maynard Keynes, Harry Dexter White e o Nascimento de uma Nova Ordem Mundial”].

Enquanto a Segunda Guerra Mundial se alastrava pela Europa, os representantes das Nações Aliadas se encontraram na conferência de Bretton Woods para estabelecer as regras e procedimentos para regular as questões monetárias internacionais. A conferência estabeleceu o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Poucos dias antes de passar pelo local, fui convidado para visitar o Hotel Mount Washington, o local onde a história monetária foi feita. O hotel e suas instalações são fantásticos. “A beleza majestosa de suas instalações”, cita Steil em um texto escrito por um correspondente do New York Times em 1944, está “em completo contraste com a confusão temporária que eclodiu neste planalto nas sombras do Monte Washington”.

Steil descreve que o hotel era “pelas lendas, rotineiramente assombrado por fantasmas”, e enquanto eu andava sozinho pelos corredores, também tive a sensação de que não estava sozinho. Como o autor do livro salienta, o resort por si próprio teria se transformado em um fantasma se não fosse pela conferência de Bretton Woods, que estava à beira da falência até que o famoso encontro “o trouxe de volta à vida”.

Minha visita ajudou a situar Bretton Woods no mundo real. O livro de Steil faz praticamente a mesma coisa. Os indivíduos são o centro da história, que também está cheia de contos de intrigas internacionais, espionagem e de personalidades famosas. Não é um livro apenas para fãs de história e economistas geeks.

Por exemplo, uma ex-prima bailarina, Lydia Lopokova, nadava diariamente nas águas geladas do rio Ammonnoosuc, que corre próximo ao hotel. De noite ela dançava no quarto, atrapalhando o sono do ocupante do quarto abaixo do dela, o Secretário do Tesouro Henry Morgenthau Jr. Porém ninguém reclamou. Ela era casada com John Maynard Keynes.

Falando em Morgenthau, ele se nomeou como presidente da conferência, como responsável pelo discurso de abertura, e prometeu não deixar o “aristocrata enganador de língua afiada – Lord Keynes”, “ser o centro das atenções no dia de abertura”. O discurso do Secretário do Tesouro teve como assunto a guerra e a paz, alertando que a depreciação competitiva da moeda era uma arma econômica que, se usada, “pode não ter outro resultado a não ser a guerra. Isso é tão perigoso quanto fútil”.

Enquanto isso, Keynes buscava evitar que o contingente dos Estados Unidos substituísse o acesso comercial da Grã-Bretanha a suas colônias e domínios, resultando em uma vantagem norte-americana que iria tornar a Grã-Bretanha totalmente dependente dos Estados Unidos para sempre.

Harry Dexter White aparece com destaque na história de Bretton Woods. Em sua infância, ele era descrito como uma criança nervosa e tímida. Como economista, ele era um engenheiro social que buscava sempre encontrar “questões em que o governo deve se envolver”. Posteriormente, Steil escreve, “White estava ansioso para pôr suas próprias mãos nessas questões”. Ele buscava combinar o padrão ouro com um padrão monetário nacional que evitaria as desvantagens de ambos.

A história realmente começa a ficar interessante quando o autor conta a relação de White com o agente duplo Whittaker Chambers. Conforme White espionava para os russos no final dos anos 1930, seu vínculo com o governo dos EUA se expandia continuamente. Em seus encontros, White irritava Chambers com seus falatórios constantes sobre questões monetárias. Entretanto, White não era marxista. Steil o  descreve como um economista keynesiano e sendo um “progressista de New Deal tradicional”.

White não recebia dinheiro dos soviéticos. Ele recebia tapetes e outros itens. Steil relata uma história hilária de um carpinteiro de Washington chamado Harry White que misteriosamente acabou recebendo caviar e vodca, até que o destinatário verdadeiro rastregou as entregas.

A conferência se arrastou por três semanas, com seus 730 delegados (de 44 nações) e 70 membros da imprensa transbordando os jardins do resort e lotando os hotéis por quilômetros de distância. No fim, os Acordos de Bretton Woods foram escritos, e um ano e meio depois, ratificados. Em Março de 1947, o Fundo Monetário Internacional começava suas operações.

O discurso de despedida de Morgenthau anunciava que o estabelecimento do FMI e o Banco Mundial significava o fim do nacionalismo econômico. O objetivo do Acordo de Bretton Woods era diminuir as barreiras econômicas e facilitar o fluxo de capital.

Porém, como o economista Henry Hazlitt havia previsto constantemente em sua coluna no New York Times na época, as questões monetárias mundiais rapidamente começaram a ruir sob o acordo de Bretton Woods. De fato, quando a conferência começou em primeiro de Julho, Hazlitt escreveu, “seria impossível imaginar um momento mais difícil para as nações soberanas decidirem em que grau elas podem ajustar e estabilizar a sua moeda nacional”.

Primeiro houve a inflação em 1946 e a crise da libra esterlina no ano seguinte. A Grã-Bretanha desvalorizou a libra em 30% em 1949, e 30 países eventualmente seguiram seu exemplo. Em Setembro de 1963, Charles de Gaulle ordenou ao Banco da França exigir que 80% do balanço de pagamentos prometido a eles pelos Estados Unidos fosse feito em ouro. O presidente francês não era economista; ele tinha sido instruído pelo crítico de Bretton Woods, Jacques Rueff.

Em 1961 e 1969, o marco alemão foi desvalorizado, e em Agosto de 1971, Bretton Woods terminou de vez quando Richard Nixon deu um fim definitivo ao padrão-ouro. Foi dado um aviso de apenas uma hora, “uma violação clara das obrigações dos EUA com o FMI”.

Assim, os EUA moderno profundamente endividado tinha obtido o benefício de pagar suas contas em uma moeda que criava livremente. Esse sistema não pode durar para sempre. Como o autor explica, poderia haver uma transição suave para o padrão dólar, mas  provavelmente a mudança abrupta será “preocupante e danosa”.

Trinta anos após Bretton Woods, em seu discurso do Nobel, F. A. Hayek disse, ecoando Hazlitt, “se o homem não fizer mais mal do que bem em seus esforços para melhorar a ordem social, ele aprenderá que com isso, como em qualquer outro campo em que prevalece um tipo organizado de complexidade essencial, ele não pode adquirir o pleno conhecimento que tornaria possível o domínio dos eventos”.

A lição nunca foi aprendida. O mundo continua vinculado ao Banco Mundial e ao FMI.

Entretanto, livros como o de Steil pode ajudar a nova geração a entender suas limitações.

// Tradução de Robson Silva. Revisão de Adriel Santana e Robson Silva. | Artigo Original


Sobre o autor

Douglas French

Douglas E. French é editor-chefe na Laissez-faire Books e ex-presidente do Ludwig von Mises Institute. Ele recebeu seu mestrado sob orientação de Murray Rothbard na Universidade de Nevada, Las Vegas, após anos trabalhando no mercado financeiro. Ele é autor de Early Speculative Bubbles, o maior estudo empírico relacionando bolhas e a oferta monetária.



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